Saúde


Relato de experiência na área da Saúde em Guimarães - MA,
por Luana Nikari – aluna de Enfermagem da UnU de Itumbiara / UEG

No retorno da viagem precursora, a coordenação da equipe A deu ênfase às doenças que vinham afetando a região do município de Guimarães, onde os índices de malária se exaltaram nos últimos meses (embora a Secretaria de Vigilância Epidemiológica mantenha a situação sob controle). Outras parasitoses analisadas no município de Guimarães para a posterior organização das equipes foram as epidemias de leishmaniose e de esquistossomose, além de terem sido identificadas algumas outras temáticas em saúde para serem abordadas pelos palestrantes como: Hepatites virais, Drogas lícitas e ilícitas, contando também com orientações sobre reeducação alimentar, cuidados com a água que se bebe, cuidados com a alimentação das crianças, prevenção às doenças sexualmente transmissíveis, higiene pessoal e higiene bucal (adultos e crianças), planejamento familiar e métodos contraceptivos.

Logo no início da operação no município de Guimarães, tivemos total apoio tanto dos responsáveis por programas de saúde, como do próprio público, o qual muito contribuiu para essa experiência tão engrandecedora. A Sra. Margarete Matos Ribeiro, Secretária de Saúde, deu apoio incondicional à equipe de enfermagem da UEG, tanto no sentido de indicar as palestras mais adequadas a cada comunidade, como no sentido de proporcionar transporte até os povoados, além da nossa alimentação.  

Pessoal da Vigilância Epidemiológica – Capacitação em Prevenção à Malária e Esquistossomose, ministrada por Luana Silva e Alan Johnson.

Rondonistas de Enfermagem (UEG) com a Secretária Municipal de Saúde de Guimarães, Sra. Margarete Ribeiro.

A primeira comunidade a ser visitada por nós, rondonistas de enfermagem da UEG, foi Baiacu, aproveitando a passagem dos agentes de saúde e enfermeiros, além do restante da equipe da Secretaria de Saúde, rumo à jornada de casa em casa aferindo pressão arterial, pesando adultos e crianças, orientando quanto a atividades rotineiras e visitas em postos de saúde e oferecendo demais serviços.

Não sabíamos o que esperar na primeira visita, afinal, era o nosso primeiro contato com a comunidade. Fantoches alegraram as crianças e deram lugar às informações preciosas sobre higiene pessoal e bucal, logo depois da população adulta, reunida no posto de saúde de Baiacu, se atentar aos cuidados com a água. Uma rápida contação de histórias foi organizada pela acadêmica Ariane Tafnes, o que despertou o interesse dos pequeninos, que com seus olhos brilhantes fitavam atentamente aquela boneca verde que foi enterrada por Pedrinho nos fundos do quintal, como contava a história. A Tia Ariane deixou a imaginação das crianças ser levada a um mundo de fantasia e por alguns minutos elas esqueceram do mundo a sua volta e se encantaram com os desenhos no quadro de flanela. Essa foi a comunidade mais distante que visitamos nesse período de 12 dias de estadia em Guimarães e podemos dizer, com certeza, que deixamos pelo menos uma sementinha de saber a uma comunidade inteligente e que saberá utilizar as informações recebidas com êxito. Sementinha... ou seria Simentinha?

Seu Agnaldo e a Simentinha do som ao lado dos rondonistas.

É, na verdade é Simentinha mesmo. Quando se diz que no Rondon todos os dias são dias emocionantes, acredite, pois é verdade. Ao chegarmos a Maçaricó, numa bela quarta-feira, dia 1º de fevereiro, nos deparamos com um mais um posto de saúde vazio (no percurso de XX comunidades que visitamos nem sempre a divulgação foi eficiente e era preciso sair à busca do público para as palestras). Frente ao desafio, conseguimos encontrar uma radiola (caixa de som) com microfone e eis que conhecemos a Simentinha do som. Explicamos a nossa saga ao morador e dono da radiola e descobrimos assim, num clima de canções da Eliana, a sua história.

A Simentinha é uma rádio comunitária a qual é composta por uma caixa de som e um alto falante, que, segundo Seu Agnaldo, é ouvida pelo povoado inteiro. E ele ainda faz um programa matinal num determinado horário em que toca músicas típicas da região. Ele nos cedeu gentilmente seu microfone e foi feita assim a divulgação das atividades que seriam desenvolvidas em Maçaricó. Mas a saga não termina por aí. Anunciamos que iríamos iniciar as atividades às 15:00 hs e as 15:00 hs não havia ninguém. Um desespero mútuo tomou conta das nossa lembranças e estávamos desistindo de Maçaricó, bebendo Psiu e comendo biscoito, quando de repente uma senhora aponta do outro lado da rua, e mais outra e outra. No final da atividade tínhamos em nossas mãos a lista de freqüência que contava com mais ou menos 25 pessoas. Essas pessoas para quem falamos, em Maçaricó, se dispuseram a nos ouvir e vão passar as informações para frente. Não há melhor recompensa diante de tanto trabalho. Aos que iniciaram as atividades estressados, veio o consolo. Aos que não tinham esperança da realização das atividades naquele povoado veio o contentamento em forma de humildade, simplicidade e questionamentos a serem feitos.




Atividades dos rondonistas da UEG com os alunos do Curso Técnico de Enfermagem - Escola Magnífica (Guimarães).


 
Relato de experiência na área da Saúde em Guimarães - MA,
por Luana Nikari – aluna de Enfermagem da UnU de Itumbiara / UEG


Nos últimos dias em Guimarães, ainda houve lugar para uma surpresa

Havíamos marcado uma palestra de última hora com os estudantes do Curso Técnico em Enfermagem de Guimarães sobre Estruturação Motivacional, para comentar sobre a importância de se conhecer a história da enfermagem e sobre a autonomia e confiança que aguardam o profissional dessa área na rotina de trabalho.

Assim que todos se aconchegaram, eu iniciei comunicando que aquele era nosso último encontro de palestras no Rondon e abordei temas como vocação, citando meus próprios pontos de vista e deixando depois a fala livre aos presentes. O rondonista Alan Jonhson (UnU de Ceres) abordou questões sobre a história da enfermagem, tangenciando Florence Nigthingale e Ana Nery, grandes nomes da enfermagem no mundo e no Brasil. Em seguida, foi a vez da rondonista Ariane Tafnes (UnU de Ceres) relatar experiências em campo de estágio e elucidar algumas vertentes da enfermagem.

Por fim, a sala se encheu de sorrisos ao som de uma canção que embalou os rondonistas nas noites de trabalho na Vila Gen, Open your eyes. Então, houve uma espécie de dinâmica para mostrar que com o trabalho em equipe as coisas se resolvem bem facilmente, afinal uma equipe, assim como na dinâmica, deve caminhar junta, de mãos dadas para alcançar seu objetivo comum: o sucesso.

A dinâmica agradou tanto que, nossos queridos estudantes quiseram fazer novamente e assim o fizemos. Mas algo inesperado aconteceu: os estudantes pediram para que nós, os rondonistas, nos dirigíssemos ao centro de um círculo de pessoas organizado por eles e um segundo depois todos nos aplaudiram. Momento emocionante que ocorreu, pois está aí a prova de que projetos como o Rondon atingem sim as pessoas e essas nos agradecem da forma mais singela e significativa: aplaudindo o nosso trabalho. Um trabalho feito com muito esforço e dedicação. Tenho certeza de que todos os rondonistas o fariam novamente sem pestanejar um segundo se quer. Nós, rondonistas, fizemos o que sentimos vontade em fazer: aplaudimos, também de pé, aqueles estudantes que fizeram parte de 12 dias da nossa história em Guimarães.






Atividades dos rondonistas da UEG com os alunos do Curso Técnico de Enfermagem - Escola Magnífica (Guimarães).


Em Itapecuru, foi um pouquinho diferente das outras comunidades pois acompanhamos o trabalho de uma nutricionista e de uma enfermeira, de casa em casa, prestando seus serviços. Essa visita foi emocionante, pois remontou em minhas lembranças momentos de minha infância, por se tratar de uma comunidade ribeirinha, digamos assim, já que cinco anos de minha infância se passaram às margens do rio Araguaia. E trouxe à tona questões sobre o cuidado com os idosos e com a higiene das crianças, sendo este último tema de um bate-papo com Juçara e Babaçu, no posto de saúde.


Juçara e Babaçu são dois personagens (fantoches) os quais eu e Ariane usamos para enfatizar cuidados com a higiene tanto dos adultos como das crianças e, diga-se de passagem, fez até os maiores rirem dos fatos contados. Tudo muito simples, sem aqueles holofotes de cidade grande...

Itapecuru possui, em sua maioria, casas de adobe revestidas de barro, o que é representa alguns riscos de saúde para seus moradores, pois o Maranhão assim como outras regiões de mata, é um estado propício ao aparecimento do barbeiro (inseto transmissor da doença de Chagas). A humildade daquele pessoal até assusta, pois nota-se um brilho no olhar de cada vimarense da comunidade que caminha com os pés cansados e descalços sobre a branca areia que banha a região. Apoiada em seu cajado, uma senhorinha com muitas marcas do tempo se aconchegou em sua cadeira de plástico sobre o piso de chão no barro maciço, em sua casa de adobe, ouvindo o cantarolar de seu casal de papagaios. Ao nos aproximar, notamos também a presença de algumas crianças brincando frente à residência da senhorinha supracitada. Inocentes, sem medo, sem desconfianças, chegaram bem perto enquanto os profissionais faziam a visita. Segundo a nutricionista, a senhorinha estava abaixo do peso ideal e lhe foi recomendado que se alimentasse com os mesmos nutrientes que já se alimentava, pois esses lhe eram suficientes, porém em quantidades maiores para um possível ganho de peso. Sua fragilidade transparecia em seu rosto, porém não ficaram dúvidas de que embora com tão pouco, havia uma felicidade contagiante através da riqueza, em seu sorriso.


Fotos das atividades na Secretaria de Vigilância Epidemiológica, no CAPS e nas comunidades de Guimarães: